quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Contabilizando o belo, por Ana Echevenguá


Moro num pedacinho do paraíso. Costumo caminhar pela praia, diariamente...

Antigamente, caminhava de olho na areia, no chão. E, irritada, prosseguia contabilizando o lixo, o despejo dos resíduos, as pegadas e cocô de cachorro... enfim, prestava atenção no tratamento que os humanos dispensavam ao meu paraíso.

Um dia, estava tão absorta nessa ‘contabilidade’ que, quando olhei pro meu lado esquerdo e vi o mar, tomei um susto. Isso mesmo: um susto! 

Impactou-me aquela beleza tão perto de mim: o azul do céu e o dourado-prateado dos raios de sol refletindo nas águas, o branco das ondas, os morros verdejantes no horizonte, o vôo das gaivotas... 

Gente!, tanta beleza - ali, do meu lado... tão próxima – e eu olhando pro lixo do chão, brigando mentalmente com os usuários da praia, com a ineficiência da fiscalização dos órgãos públicos...!!!

Parei. Respirei fundo para melhor usufruir daquele momento, daquela beleza ímpar, gratificante e gratuita. Troquei meu ‘parceiro de caminhada’: a visão da paisagem ao meu lado era melhor do que a do solo em que eu pisava. 

Desde então, mudei o foco, pensamentos  e postura.  Se há lixo no chão, eu cato e jogo na lixeira mais próxima. Faço a minha parte, sem julgar! Quem deixou resíduo espalhado na areia ainda não tem condições de entender do quanto isso é prejudicial.

Cuidar da Natureza é prestigiar e conservar a obra prima do Criador!

Aprendi a usufruir dos benefícios da minha praia; a  contabilizar o belo! 

Como bem canta Milton Nascimento, em “Outro Lugar”: “... O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem. Vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir...”.

Hora de partir pra usufruir do belo, do bom, do paraíso... Tudo o que nos cerca tem alguma porção de lixo. Mas tem – em maior quantidade - algo de belo, bom e positivo a ser respeitado, admirado, absorvido... Basta querer enxergar! 




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