“…
E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada. É tão fácil ir
adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada…” – ‘Toda forma
de poder’ de Humberto Gessinger (da banda extinta Engenheiros do Hawai).
O filme
‘No’ - sob a direção de Pablo Larrain e escrito por Pedro Peirano - é uma boa oportunidade para pensarmos sobre a verdadeira história da nossa
América Latina.
Não se
trata de uma megaprodução cinematográfica, com atores pouco conhecidos… nem sei
se concorreu ao Oscar!
O tema é
fantástico: como transformar o fim da ditadura chilena num “produto vendável e
atrativo ao consumidor (eleitor)”? Em 1988, Pinochet é obrigado a levar o povo
às urnas para decidir – através de um plebiscito – sobre a continuidade do seu
governo ditatorial.
E o povo
tem que decidir “Si” ou “No”.
Os
pensadores da campanha eleitoral do “No” apresentam uma proposta insólita para
os quinze minutos televisivos da campanha eleitoral. Primeira oportunidade de
manifestação após quinze anos de mordaça.
Sem
pieguice, ficou entendido que o mesmo caixa que colocou Pinochet no poder
remunera os marqueteiros que pretendem tirá-lo.
À primeira
vista, parece inacreditável que o eleitor chileno tenha que ser seduzido para
adquirir o produto ‘fim da ditadura’. Mas, uma fala de um dos generais de
Pinochet – comendo bergamota no pomar – explica tudo: “o povo não está
interessado nessa campanha, o povo está dormindo”.
“América
Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor.
Talvez um dia o gemido das masmorras
E o suor dos operários e mineiros
Vão se unir à voz dos fracos e oprimidos
E as cicatrizes de tantos guerrilheiros
Talvez um dia o silêncio dos covardes
Nos desperte da inconsciência deste sono.” Dante Ramon Ledesma
Amada América, de sangue e suor.
Talvez um dia o gemido das masmorras
E o suor dos operários e mineiros
Vão se unir à voz dos fracos e oprimidos
E as cicatrizes de tantos guerrilheiros
Talvez um dia o silêncio dos covardes
Nos desperte da inconsciência deste sono.” Dante Ramon Ledesma
Dormindo
e cicatrizados. Anestesiados e oprimidos. Fascinados e inconscientes. Óbvio! Os
chilenos já haviam experimentado as farsas dos plebiscitos fraudulentos de 1978
e de 1980, que deram legitimidade e prorrogação à ditadura. Este parecia ser
mais uma fraude.
Ainda da
canção “Toda forma de poder” de Humberto Gessinger (da banda extinta
Engenheiros do Hawai): “Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz
nada”.
(E, pensando
o momento atual brasileiro, o resultado das eleições de 2012, podemos dizer
também que – de igual sorte – estamos anestesiados e adormecidos… em berço
esplêndido. Agora, por exemplo, o que importa é o futebol da Copa que está por
vir).
Afinal,
já nos acostumamos à legitimação de inúmeras ilegalidades, irregularidades,
arbitrariedades… tudo para preservar os interesses espúrios dos Detentores do
Poder e de seus amigos e apadrinhados. Parece pacífico que, aqui, o Estado não
mais existe para resguardar os direitos do homem. “A história se
repete, mas a força deixa a história mal contada…”.
Embora eu
não veja mais poesia e romantismo nas eleições – até mesmo as para diretor de
escola ou para associação de bairro – finalizo com os versos de Neruda, escritos
em sua juventude, em 1924 (Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada). Que
me fazem pensar: ao escrevê-los, pensava na mulher amada ou na liberdade e na
justiça, direitos pelos quais lutaria anos mais tarde?
“Não
te quero senão porque te quero
e
de querer-te a não te querer eu quero
e
de esperar-te quando não te espero
passa
o meu coração de frio ao fogo.
Te
quero só porque a ti eu te quero,
do
ódio sem fim, e odiando-te rogo,
e
a medida de meu amor viajante
é
não ver-te e amar-te como um cego. Talvez consumirá a luz de janeiro,
seu
raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me
a chave do sossego.
Nesta
historia tão só eu me faleço
e
morro de amor porque te quero,
porque
te quero, amor, a sangue e fogo”.
Ana Candida Echevenguá, OAB/RS 30.723, OAB/SC 17.413,
advogada e articulista, especializada em Direito Ambiental e em Direito do
Consumidor. Coordenadora do Programa Eco&Ação, no qual desenvolve um
trabalho diretamente ligado às questões socioambientais, difundindo e
defendendo os direitos do cidadão à sadia qualidade de vida e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. email: ana@ecoeacao.com.br.