sexta-feira, 24 de junho de 2016

Noite de São João - poesia de Ana Echevenguá




Na minha infância, cercada de amor,
Tão importante quanto o Natal
Era a noite de São João.



Nossa mãe nasceu dotada
de tanta imaginação!
Parecia professora de arte:
Papelzinho sob o travesseiro,
Com o nome de meninos bonitos,
Pra saber com quem eu casaria...
Clara de ovo na geada
Pra ver que imagem e forma surgiriam...
Roupa molhada no varais
Pra recolhê-la congelada
Cheiro de pipoca, amendoim torrado, de pão,
De rapadura e puxa-puxa...

Sabem do que mais?
A gente fazia bandeirinhas,
Coloridas, lindas, miudinhas,
E fazia o grupe pra grudá-las no cordão...



Nosso quintal tinha tanta planta:
Laranjeira, limoeiro, limeira, bergamoteira...
Mas, nossa mãe, artista e autoritária,
Só nos deixava arrancar fruta do pé
Depois da noite de vinte-e-quatro,
Depois que São João as adoçasse
Derramando sobre elas seu xixi...

Estórias de mãe zelosa,
Sabem bem como é?

E naquela noite escura, longa e congelante,
eu ia pra cama, feliz da vida,
De barriga cheia, com os pés quentinhos,
imaginando um São João jovem e sapeca,
Sorridente, brincando com a lua e estrelinhas,
Fazendo ‘xixi santo’ nas frutinhas...