A depressão tira as palavras da gente. Elas saem da
boca, saem da cabeça, saem do coração. Enquanto tudo não passa, há uma
tonalidade gris do mundo à volta, um vestíbulo do nada, que já parecemos ir
encontrar, e uma falta de vontade geral do corpo e do cérebro.
Mas, não é falta de vontade. Não é inatividade por
opção consciente. Não é uma negação das coisas porque as coisas são más em si,
ainda que possam nesses momentos nos parecer. A depressão é uma doença, só uma doença, mas nos retira
as canções que trazemos ao peito, os poemas que nos comovem a alma e o sorriso
aberto que nos acompanhou pela vida afora. Quando estamos assim, tudo gira. Não
há concentração. Não há leitura. Não há escrita. Só há o que não devia haver e
que nos é incomum.
No entanto, sabermos que estamos
doentes e procurarmos ajuda é importante, muito importante, ainda que tanto nos
custe o próprio ato de buscar ajuda.
De qualquer forma, para que
recuperemos música, emoção e sorriso alguma revolução há de ocorrer dentro de
nós. Eu, por enquanto, penso que talvez haja, de fato, alguma propensão pessoal
minha para viver, mesmo que por certo momentaneamente, esse estado de espírito,
dentre tantos outros que já vivi.
Mas, pensando bem, o mundo em
geral não anda tratando de nos trazer alegrias e paz. Queria deixar aqui minha
constatação de que, sim, estou a enfrentar dificuldades que são minhas, só
minhas, mas também denunciar que há coisas erradas na vida humana, independentemente
do que possa eu sentir e para além de mim, que contribui para que venhamos a
ficar tristes.
Travo duas lutas, agora: a de
tentar me recuperar com o auxílio psicológico e de fármacos, mas também a
política, para que se restabeleça um humanismo e alguma condição de igualdade e
liberdade geral onde eu não me sinta vitimado apenas pelas minhas escuridões
pessoais, mas também pela brutalidade da vida e seja isso de fato algo
verdadeiro e não apenas ilusório, ou fruto de uma estratégia auto piedosa para
continuar a viver.
Tenho apreço pelos indivíduos que
conseguem lutar heroicamente nesses dois flancos, pois isso não é nada fácil. A
tirania do mau-gosto, da hiper-informação, da perda de identidade dos lugares
culturais dos homens e a chatice generalizada das coisas, quando se agrega às
misteriosas tristezas e desamparos de um ser que também se perde dentro de si
mesmo, fazem com que todos os dias, mesmo os ensolarados, sejam chuvosos,
melancólicos e tragam suas doses de infelicidade.
Mas, um dia haverei de vencer
essas fragilidades tão minhas. Só espero contar com outros, para vencer as
outras fragilidades, as que são tão nossas. Essas, as do lado ruim do mundo, e
que estão em expansão veloz e têm uma voragem arrebatadora e sem clemência
pelos que vão matando pelo caminho de suas andanças.
Abaixo a feiura de tudo que
despreza a arte, o engenho e a graça. Essa feiura também nos adoece, e talvez
principalmente seja essa a consequência de sua ampliação incontrolável.