Estamos imersos num período de incertezas, dúvidas... Alguém sabe dizer como será, amanhã, o nosso mundo, numa dimensão global?
Claro que isso mexe com nossos medos e ansiedades, porque estamos lidando com o desconhecido. Acordamos e dormimos assombrados com o medo da morte, da doença, da loucura... juntos, batendo na nossa porta.
Tudo bem! Nas horas de crise, a Espiritualidade Amiga não exige demonstrações heroicas. Solicita-nos, tão somente, que saibamos suportar as provas, adquirindo experiência.
Ou seja, as situações de incerteza dos dias atuais exigem equilíbrio.
E o equilíbrio não é algo estático: é dinâmico, restaurável, adaptável às pedras do caminho; deve adequar-se às dificuldades do cotidiano...
Errar e corrigir, para acertar sempre mais, conforme nos ensina Emmanuel.
Esta crise não é novidade! Faz tempo que o Universo está nos enviando sinais, alertando-nos que iria mexer nas ‘nossas grandes certezas’ pra implementar as mudanças necessárias.
Mas, até agora, parece que só vemos aquele grande ponto de interrogação.
Respire fundo e acredite: estas incertezas nada mais são do que as forças benéficas do Universo exigindo uma readaptação para voltarmos ao ponto de equilíbrio. É a Vida exigindo readequação, obrigando-nos a pensar em outras formas de viver, de progredir, de ser feliz...
Por isso, não devemos nos desestabilizar diante dessas incertezas e das mudanças necessárias. Somos espíritos em processo de evolução... Podemos ser como a água, que se adapta magnificamente às circunstâncias, ao meio onde se encontra...
A pandemia veio nos avisar que chegou a hora de deixarmos o passado paralisante no qual nos acomodamos e recriarmos o futuro; com foco na nossa missão, nos impositivos do nosso roteiro, naqueles compromissos que assumimos no Plano Espiritual, bem antes de aterrissarmos neste planeta.
Hora de deixar no passado seus erros, culpas, intrigas, ódio, mágoas...
E vislumbrar no futuro a realização de seus sonhos, dos seus propósitos divinos...
Assim, de ora em diante, não pense nem fale mais na pandemia. Entregue-se, de corpo e alma, a este chamado da Vida, mostrando horizontes largos para o cumprimento de sua missão.
No livro Alma e Coração, psicografado por Chico Xavier, Emmanuel nos traz uma reflexão magna no capítulo ‘Amarás servindo’:
“Quando alguém te aponte os males do mundo, lembrar-te-ás dos que te suportaram as fraquezas da infância, dos que te auxiliaram a pronunciar a primeira oração, dos que te encorajaram os ideais de bondade no nascedouro, e daqueles outros que partiram da Terra, abençoando-te o nome, depois de repetidos exemplos do sacrifício para que pudesses livremente viver...”
Pensei nas tantas pessoas que me precederam, que me ajudaram, facilitando o meu ingresso e caminhada neste Mundo...
Além de honrar pai e mãe, devemos honrar a todos os nossos antepassados, até os que não tivemos a oportunidade de conhecer.
Embora saiba que estamos interconectados, espero reencontrá-los, no Mundo dos Espíritos, para agradecer, abraçar e festejar os nossos progressos.
“... e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família (extensa) se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros...” – Capítulo XIV, item 9, ESE.
Emmanuel também me fez lembrar dos que, com muito sangue, suor e lágrimas, lutaram para que hoje eu possa gozar de vários direitos – em especial os direitos femininos - que se transformaram em regras legais. Muitos morreram para que pudéssemos livremente viver...
Ah! Somos integrantes de uma grande e amorosa família! Porque os verdadeiros laços de família são os de simpatia e comunhão de ideias e não os de sangue. Laços eternos que nos prendem antes, durante e depois das encarnações...
“Se me faltares, nem por isso eu morro, se é pra morrer quero morrer contigo, Minha solidão se sente acompanhada, Por isso às vezes sei que necessito teu colo, teu colo, eternamente teu colo.” (Iolanda - Pablo Milanés, versão de Chico Buarque)
João está triste. Ele foi levado à separação devido à “falta de companheirismo” da esposa.
E eu passei a divagar sobre o tema: essa é uma justa causa para desfazer um casamento?; faltou companheirismo ou faltou também amor, paixão, respeito, enfim, o afectio societatis (vontade de permanecer associado a outra pessoa...?
Não sei. Talvez nem João saiba.
Separar é uma das consequências previsíveis de um relacionamento. Os laços se atam e se desatam. E o comportamento racional é acatar a vontade manifesta do cônjuge que deseja romper os vínculos, abandonar o barco, ...
“Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado” – Chico Buarque
Claro que nem sempre a aceitação é mansa e pacífica. Na semana passada, por exemplo, um marido matou a mulher na frente dos filhos porque ela queria a separação: puniu-a com a morte após o manifesto interesse em extinguir a sociedade conjugal.
“Se, ao te conhecer, dei para sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir” – Chico Buarque e Tom Jobim
Afinal, quais são os deveres do casamento?
Casamento é uma pequena sociedade, com vigência por prazo indeterminado, entre duas pessoas com interesses comuns. Implica direitos e deveres mútuos. Exige investimentos (não somente financeiros) diários para ‘manter a liga’ e obter êxito.
Mas quais são os deveres do casamento? Eles não estão explícitos no respectivo contrato. Ficamos imaginando as regras do jogo (isso se aplica também à união estável, que ao casamento se equipara).
No Brasil, as normas vigentes preservam o casamento, a união estável... E a separação judicial sem justa causa, via de regra, deve ser consensual. Para a Lei 6.515/1977, a separação litigiosa só ocorre se um cônjuge “imputar ao outro conduta desonrosa ou qualquer ato que importe em grave violação dos deveres do casamento e tornem insuportável a vida em comum”.
Talvez essa proteção à vida-a-dois tenha se materializado porque “amar supõe evoluir todos os dias, conhecer o outro cada vez melhor, construir com ele um lugar no mundo em que as pessoas, ao entrar, sentirão que ali existe vida, carinho sincero, vontade de acertar”; palavras do psicanalista Roberto Shinyashiki.
A falta de companheirismo, então, pode configurar violação aos deveres do casamento e tornar insuportável a vida em comum?
Eu e meu amigo João entendemos que sim. Embora no dicionário Aurélio, seu significado se resuma a ‘aquele que acompanha’, companheiro é cúmplice, é alguém que respeita, orienta, cuida e que, acima de tudo, investe positivamente no nosso sucesso. Se um dos sócios não mais dispensa este tratamento ao outro, pode estar cometendo injúria grave. E não mais poderemos falar em suportabilidade da vida em comum.
Casar pode dar certo?
Para Shinyashiki “todos os seres humanos possuem um grande objetivo na vida: viver em estado de pleno amor”.
Claro que não há fórmula mágica para a perpetuação das sociedades. E uma relação-a-dois envolve regras ímpares como o envolvimento sexual sem o mero intuito de procriar. Relegar esse aspecto pode implicar a falência da sociedade. Devido à sua relevância, a lei trata a conjunção carnal como um dever marital.
Leonardo Boff, em seu artigo “Como não perder o rumo certo”, diz que “não se pode construir nenhuma sociedade minimamente humana assentada sobre a falta de cuidado, de justiça e de igualdade”. E que “Uma sociedade precisa da generosidade, da cooperação e do diálogo, da comunicação livre, numa palavra, daqueles valores que constroem a felicidade social”.
Boff não está se referindo às relações matrimoniais ou similares. Mas seus argumentos são aproveitáveis a essas.
As pessoas não se associam somente porque têm afinidades entre si; associam-se porque lhes convém o empreendimento. E precisam, para não perder o rumo certo deste, aplicar capital econômico e humano. Ou seja, precisam alimentar cotidianamente a vontade de manter a sociedade.
Talvez, desta forma, os sócios-amantes possam consolidar os versos que o poeta cubano Pablo Milanês fez à sua Iolanda: “Quando te vi, eu bem que estava certo De que me sentiria descoberto A minha pele vais despindo aos poucos Me abres o peito quando me acumulas De amores, de amores, eternamente de amores...”.
A família é essencial para a reencarnação; é um laboratório de amor, uma microempresa que recepciona e ajuda os espíritos em sua evolução. É a grande oficina de burilamento na Terra.
E o lar é o templo dessa família!
Com raras exceções, o núcleo familiar também propicia as condições para o eclodir das paixões, insanas ou sublimes, conforme nos ensina Joanna de Angelis.
Segundo Chico Xavier, nascemos no lar que precisamos. Ou é expiação, ou o escolhemos ou nos foi proposto por nossos guias espirituais... tudo antes do renascimento.
Isso justifica o nosso ingresso na atual família. Porque não há improviso no Plano Espiritual; cada reencarnação é meticulosamente planejada.
Os filhos não são nossos: são empréstimos divinos para a construção de um mundo melhor. Então, exercer o papel de pai ou de mãe é uma grande responsabilidade porque este espírito reencarnado assimila os exemplos vividos no lar. É a sua primeira escola, pois, na infância tenra, está mais acessível aos ensinamentos que recebe.
Os pais têm por missão educar seus filhos, demonstrando seu amor e esforço para viverem em harmonia. E isso nem sempre significa ser ‘bonzinho’, fazer vistas grossas aos erros dos filhos... Até o pior criminoso tem lar, tem uma mãe que o ama e que zela pelo seu bem-estar.
Como os espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros, os pais poderão ser responsabilizados, se vierem a falir na sua missão porque, um dia, irão prestar contas de suas atitudes.
Claro que as Leis da Vida não nos obrigam a morrer para auxiliar aos que recusam ajuda e o amor, e que não estão voltados para a prática do Bem.
Sabiam que muitos inimigos do passado são convidados a reencarnarem juntos, no mesmo lar, para viverem provas em comum e buscarem entendimento?
Se obtiverem êxito, estarão cumprindo um dos ensinamentos de Jesus: “Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele...”.
Sabendo disso, o esquecimento do passado é uma benção. Fica mais fácil, desta forma, conviver ou reconciliar com alguém que foi a causa de nosso desequilíbrio, doença ou morte no passado, por exemplo.
Ah! E quantas vezes – no Mundo Espiritual - aceitamos reencarnar no convívio com parentes difíceis por amor a eles, para auxiliá-los na transformação necessária, através de nossos exemplos e paciência! Devemos fazer sacrifícios em prol do outro, sempre respeitando a sua liberdade de escolhas, porque nem todos conseguem trilhar o mesmo caminho evolutivo.
Por isso, não acreditem na falência da família. Todo o tempo disponível deve ser aplicado na convivência familiar. Bom diálogo, bons exemplos também são formas de educar.
Enquanto existirem pais responsáveis tentando viver os ensinamentos do Cristo, apesar das dificuldades que os cercam, a família será o grande ninho de amor e de aprendizado.