domingo, 5 de janeiro de 2020

Você conhece a expressão “boa morte”? – por Ana Echevenguá


Embora seja mais corriqueiro entre os atuantes na área de saúde, o tema não é muito difundido. Significa dar condições dignas ao paciente em estágio terminal, tentando minimizar a sua dor e a de seus familiares. 

Em 2004, a antropóloga Rachel Aisengart Menezes publicou um livro intitulado “Em busca da boa morte”. E ela define a “boa morte” como aquela em que o paciente possui autonomia para conhecer o tratamento que lhe será dispensado e que este deve incluir assistência psicológica, social e espiritual. Sustenta que, se necessário, ele seja atendido em casa, ao lado de seus amores... 

Este é o tratamento que gostaríamos de receber num momento tão delicado de nossas vidas. A humanização e solidariedade devem estar presentes desde a hora em que o profissional da saúde repassa a notícia de estágio terminal a seu paciente até a rede de atendimento médico-hospitalar.

Para tanto, é necessário um processo de mudança sociocultural que busque humanizar o período que antecede a morte e ofereça o melhor atendimento médico-hospitalar ao doente terminal. 

Também é necessário o atendimento espiritual. Para várias religiões cristãs, a morte não é o fim. Portanto, é preciso dar apoio e esperança aos pacientes e aos seus familiares.

Com honrosas exceções, a situação no Brasil é precária. Ainda que tenha sido criada, pelo Ministério da Saúde, em 2003, a Política Nacional de Humanização, atuando de forma transversal às demais políticas de saúde, pouco foi colocado em prática. A revista “The Economist”, em 2010, apresentou um estudo feito em 40 países sobre a qualidade da morte de pacientes terminais. O Brasil, quanto a este quesito, ficou na 39ª posição. 

Talvez isso ocorra porque, apesar de vivermos no Século XXI, ainda banalizamos a morte ou evitamos falar a respeito. Como se ela fosse tabu; como se não existisse em nosso cotidiano. 
Mas, precisamos começar a pensar no assunto, a esboçar nosso projeto de morte. 

Afinal, a busca da “boa morte” é, acima de tudo, um projeto pessoal. 

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