segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A importância da mídia local, artigo de Ana Echevenguá





Todos querem saber o que ocorre na Europa, no Oriente Médio, no sudeste do Brasil... Assim, acordamos ávidos pelas novidades globais. E a Grande Mídia nos oferece – a cada dia – as mazelas do mundo. Verídicas ou não.

Mas, existe um mundo mais próximo de nós que cai no esquecimento. Para a Grande Mídia, os buracos da nossa rua – que também provocam transtornos e acidentes – são menos importantes do que as chuvas que caem nos EUA. O lixão a céu aberto que cresce na nossa esquina não vende jornal. De igual sorte, a falta de segurança no nosso bairro.


E isso ocorre porque a grande preocupação dos governos - atuais e pretéritos - é evitar a conscientização do povo. 

Por quê? Porque certo grau de evolução social e política permite que os governados questionem a conduta de seus governantes. Não interessa, a quem exerce o poder, uma sociedade politizada; ele quer comandar uma sociedade desunida, fraca e  dominada. 

Vocês não percebem que isso está acontecendo conosco no Brasil,... em Santa Catarina,... na nossa cidade? Há uma conspiração para que sejamos  ignorantes, para que a gente saiba meias-verdades... ou mentiras inteiras. 

E esta situação dramática é fruto da influência do dinheiro sobre os meios de comunicação que hoje representa o quarto poder: o Poder da Mídia. Ele cria picaretas, cínicos, safados, ladrões, presidentes da República... 

Precisamos alertar e mobilizar a sociedade a respeito desse sério problema! 

Felizmente, ainda há espaço livre para a democratização dos meios de difusão do pensamento. E precisamos fazer uso desse espaço. Reclamando e opinando, estimularemos o espírito crítico. 

Precisamos, com urgência, de um jornalismo comprometido com o cidadão e com a cidadania. Afinal, a “revolução hoje passa pela palavra e não pelas metralhadoras”, frase célebre de Plínio de Arruda Sampaio.

Para tanto, não adianta brigar com a mídia. Está na hora de valorizarmos os meios de comunicação locais. Aqueles que informam o que acontece na esquina da nossa rua, no nosso bairro, ... E que nos concedem espaço para o exercício de cidadania.


Ana  Candida  Echevenguá, OAB/RS  30.723, OAB/SC 17.413, advogada e articulista, especializada em Direito Ambiental e em Direito do Consumidor. Coordenadora do Programa Eco&Ação, no qual desenvolve um trabalho diretamente ligado às questões socioambientais, difundindo e defendendo os direitos do cidadão à sadia qualidade de vida e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. E-mail: anaechevengua@gmail.com

A coragem de dizer "não", artigo de Ana Echevenguá e Renata Covalski



Este artigo foi escrito com emoção e publicado em 18 de outubro de 2008. Após a intervenção policial, Nayara – ferida com um tiro no rosto - deixou o apartamento andando. Heloá, com tiros na cabeça e na virilha, teve morte cerebral. O criminoso foi condenado à pena de 39 anos e três meses de prisão.
Já estamos no final de 2015 e a violência contra a mulher não apresentou ainda mudanças positivas...  sabe-se, no entanto, que as  mulheres vítimas de violência doméstica estão vencendo o medo e denunciando os agressores.


A coragem de dizer "não"



Ana Echevenguá e Renata Covalski

Homem e mulher são iguais perante a lei? Sim, claro! Peraí; quer dizer, nem tanto... Neste momento, em Santo André-SP, um homem (Lindenbergue) mantém em cárcere privado duas mulheres (Heloá e Nayara, ambas com 15 anos de idade). Por quê? Porque Heloá decidiu romper o namoro. A coragem de dizer não despertou a ira de mais um “Pierrô Apaixonado” que, em nome do amor, sente-se no direito de prender, bater, matar... 



Mais um crime de amor? Bah! Que amor é esse? Aquele que "foge a dicionários e a regulamentos vários", na poesia de Carlos Drummond de Andrade?

O caso da Heloá é o exemplo da hora. Quantas vezes por dia as mulheres são vítimas da injustiça e da arbitrariedade?

Em 2001, apuraram que 2,1 milhões de mulheres sofreram espancamentos graves no Brasil. Ou seja, a cada 15 segundos, uma mulher foi espancada no Brasil. Em 2008, o número deve ter triplicado. É ou não é uma guerra silenciosa, geralmente travada dentro das quatro paredes do “lar, doce lar”?

Provavelmente, alguns vão responder que a coisa não é bem assim...

Ora, chega de tanta hipocrisia! A consciência, os direitos e/ou a moral feminina, para muita gente, ainda são considerados inexistentes. É, sim, uma guerra civil cuja violência real contra a mulher é fomentada pela indiferença da sociedade a esses crimes. E, também, pela cultura da impunidade dos agressores.
Na Idade Média, muitas foram consideradas bruxas, e queimadas em praça pública porque seu comportamento não agradou à classe dominante. Ora, estamos no século XXI e a coisa parece não ter mudado: somos punidas -  até com a morte - sem julgamento justo. E ao nosso algoz são concedidas várias atenuantes aos “crimes passionais” que comete, inclusive o direito à defesa da honra manchada.

Por quê?

Porque a mulher ainda é vista como um objeto: uma cadeira que pode ser quebrada, um móvel velho que deve ser trocado por outro mais novo.

Quando ela é um objeto sexual, recai sobre ela, SEMPRE, a responsabilidade dos crimes contra a liberdade sexual. No entender de alguns operadores do direito, ela seduz, induzindo o macho a cometer atos de violência e de abuso sexual. E esta indução ao abuso sexual é alimentada pela mídia que geralmente expõe a mulher como o prazer sexual visual disponível no bar, no elevador, no local de trabalho, nas ruas... Basta analisarmos os anúncios de alguns produtos: o que fulmina o marasmo de um dia-a-dia de trabalho? A visão de garçonetes com corpos esculturais no boteco da esquina; um encontro com a “colega gostosona” no final do expediente...

Os programas de televisão não fogem à regra: “mulheres gostosas” são apresentadas como burras e inocentes que incentivam ou aderem aos apelos sexuais do macho protagonista.

Apesar do surgimento das delegacias de polícia para as mulheres, os dados sobre a violência contra a mulher ainda não representam a nossa realidade. A Organização Mundial de Saúde apurou que cerca de 20% das mulheres são vítimas de violência física ou sexual durante a vida. Para a Anistia Internacional, esse número pode chegar a 33%.

E vocês sabem quantas mulheres têm coragem de denunciar um crime de estupro, por exemplo? Poucas. A dor, o constrangimento, o dano moral provocados pela agressão sexual é tão grande que algumas não revelam estas situações nem para as amigas mais íntimas. Gostariam de deletar da memória que um dia foram agredidas ou abusadas sexualmente.

Assim, carregam, em silêncio, traumas permanentes que geram mudanças de comportamento, até mesmo na vida sexual.

O pior disso tudo é que muitas de nós -  mulheres - somos coniventes com esta situação. Acostumamo-nos com as agressões cotidianas; rimos das piadas machistas; cantamos “um tapinha não dói”; batemos palmas pra “artista” que posou nua na Playboy... como vivemos no país do turismo sexual, ficamos insensíveis ao vermos meninas entregues à prostituição, servindo de pasto sexual a “consumidores” estrangeiros com dinheiro no bolso.

Portanto, chegou a hora de dizer não ao medíocre papel de “objeto sexual”  que a sociedade nos impôs na novela da vida. Este é o primeiro passo para garantir a integridade física e psicológica das nossas filhas, netas e de tantas outras mulheres que amamos...

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios, e- mail: anaechevengua@gmail.com

Renata Covalski, filósofa e pesquisadora, e-mail: renatacovalski@yahoo.com.br

domingo, 20 de dezembro de 2015

Mamma Mia!! No escurinho do cinema a vida fica azul - artigo de Ana Echevenguá



Ana Candida Echevenguá, cinéfila



A versão cinematográfica da peça de teatro Mamma Mia! é a maior bilheteria do Reino Unido. Passou à frente do Titanic que, há mais de dez anos, ocupava o primeiro lugar dos filmes mais vistos naquelas terras. Rendeu, até meados de dezembro, mais de 69,06 milhões de libras (75,9 milhões de euros), superando os 69,02 milhões de libras (75,8 milhões de euros) de receitas do Titanic. 


Em Portugal, a distribuidora Zon-Lusomundo preparou uma versão karaoke para que os cinéfilos vejam o filme e cantem as canções do ABBA;

David Kosse, presidente da produtora Universal Pictures International,  afirmou que Mamma Mia! é espectacular tão logo soube que a arrecadação mundial havia ultrapassado 570 milhões de dólares. 

Se você ainda não viu, já sabe o que está perdendo!... desde os primeiros minutos, o escurinho do cinema é impactado com o azul das paisagens do Mediterrâneo: muito azul na água e no céu contrastando com a vegetação abundante. A primeira vontade é entrar na tela, para interagir com os atores neste cenário paradisíaco de uma ilha grega. E a vontade cresce quando surgem na telinha Pierce Brosnan e o maravilhoso, charmoso, encantador e quase perfeito Colin Firth. Suspiros! 

O tema é leve, simplório: gira em torno da festa casamento de um casal de adolescentes. A noiva, que cresceu sob os cuidados maternos sem saber quem é o seu pai, descobre, através da leitura do diário da sua mãe, que há três suspeitos dessa paternidade. E, secretamente, os convida para o festerê.

Mas a atuação de uma Meryl Streep bela, rejuvenescida e saltitante  quase ofusca o cenário mágico que relatei e a atuação dos demais. Ela dança, canta, corre, salta no mar... ao lado das amigas dos tempos pretéritos que chegaram pro casório é mais adolescente que a filha. De uma forma singular, ela mostra os diversos papéis que cada mulher interpreta no cotidiano da vida real.



A voz e interpretação dos componentes da banda ABBA não fez falta. Os atores cantam a trilha sonora do filme. Afinados ou não, eles fazem seu show! Que show!

Mamma Mia! é uma homenagem muito azul a todas as mulheres que, movidas pelo instinto maternal, assumem a maternidade, fazem o diabo para garantir o sustento e a sobrevivência dos filhos. E conseguem conciliar este papel de mãe com o exercício da atividade profissional remunerada.



Como é bom chorar no cinema! Só quem passou por isso sabe o que é... chorei quando a filha entende ser desnecessário saber quem é o seu pai ao reconhecer que tem uma mãe maravilhosa.


O filme não obedece àquela ‘receita de bolo convencional’ da indústria cinematográfica: uma morte violenta a cada 60 segundos, sexo semi-explícito no início, meio e fim, mocinho e bandido, a vitória do bem contra o mal... É comédia, é musical com muita música para que a platéia descontraia e se permita ficar alegre. Chorei de alegria; e de alegria ri mais ainda. Saí do cinema vendo a vida azul. 



Leitor, não perca essa oportunidade. E não saia do lugar no final, quando começar a rolagem dos créditos, como todo mundo faz. Fique sentadinho até que a grande dama Streep interaja com você e lhe pergunte o que você está fazendo ali, sentado ainda. E complemente a pergunta com: “quer mais??”



CinquentaEquatro, poesia de Ana Echevenguá




Cá estou, com cinquentaEquatro.
A areia escorre, silenciosa, na ampulheta
Enquanto os véus espessos do desconhecido
Revelam o porquê de eu estar neste Planeta.



 
Nossa! Já vivi tudo isso nesta vida?
Sim, querida! Respondo a mim mesma... sem espanto.
Já vi estrela e nuvem, sol e lua,
Crianças amadas chegando aos meus braços
em dia de luz, de gratidão e festa...



Contemplo a Terra que ora habito
Usufruindo da beleza reinante
Grata a Deus pelos presentes que me empresta
Apreendendo o ensinar dos passos
Para viver bem o tempo que me resta.


Amor? É claro que amo muito.
Meu trabalho, amigos, a família,
Os livros, o silêncio, a poesia...




Também dedico um amor peculiar
À Magia que encontro nesta Ilha,
Neste pedaço exuberante de paraíso.




Cá estou, feliz, mulher, Ana,
Tentando ser justa, correta, paciente...
(ai, como é difícil!)
Poeta que usa tintas cor-de-rosa
pra amenizar o árduo processo de evolução.