Ana Echevenguá
Geralmente, brincamos com o verbo ‘merecer’. É muito usado quando presenciamos algo ruim, desagradável, incômodo... Quebrou o salto do sapato? “Eu mereço!”. Perdeu o ônibus ou o avião? “Ninguém merece!”.
Para nosso bom amigo Aurélio, ‘merecer’ é “1. Ser digno de. 2. Ter direito a. 3. Estar em condições de obter ou de receber...”.
Lendo-o com bons olhos, entendo que não devemos usar esse verbo para identificar o direito ao infortúnio, às agruras... que podem ocorrer, mas são as exceções às regras da vida. Afinal, nascemos para a felicidade, para o constante aprimoramento.
Claro que só parei pra pensar sobre isso após ouvir, várias vezes, minha amiga Célia mencionar a palavra ‘merecimento’ como sinônima de mérito, de possibilidade de fruição das coisas boas da vida... Segundo ela, estas ocorrem porque você trabalhou, esforçou-se para tanto. Trata-se de direito adquirido.
Com diz a filósofa Renata Covalski, “essa culpa que carregamos é a culpa eterna do povo ocidental, criado dentro do moralismo cristão. Que nos diz o que é certo e errado ao agir. E, também, faz com que tenhamos sempre uma eterna culpa. Mesmo que por coisas pequenas. ‘Merecer algo ruim e inesperado’ é sinônimo de "somos culpados eternamente por alguma coisa". Logo, esse merecimento indesejado é a nossa punição. Por que devemos imaginar que ao perder um avião ou ônibus fomos punidos por alguma coisa? Não podemos apenas supor que foi o acaso?”
Pense nisso. E tente elencar, mentalmente, tudo o que você merece.
A vida não lhe pareceu mais bonita???
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